A importância da Educação Socioambiental - Uma entrevista com o professor Roberto Palmieri

Roberto Palmieri é mestre em Ecologia Aplicada e Engenheiro Agrônomo ambos pela Universidade de São Paulo – USP. Certificado pelo PMI (Project Management Institute) como PMP (Project Management Professional) e PRINCE2 - PRojects IN Controlled Environments da  OGC – Office of Government Commerce. Gerente de projetos no Imaflora, com 16 anos de experiências na execução e gestão de projetos socioambientais no governo, empresas e ONGs e professor do Mestrado Profissional da ESCAS.

1) No livro Educação ou Adestramento Ambiental?, Paula Brügger fala: "Embora a expressão 'meio ambiente´ seja amplamente confundida com natureza, mesmo nos meios acadêmicos, a questão ambiental diz respeito ao modo como a sociedade se relaciona com a natureza - qualquer sociedade e qualquer natureza - e isso inclui também as relações dos homens entre si". 

Partindo deste conceito, o que é e de que forma a educação pode permear as relações dos homens entre si e da sociedade-natureza?

A confusão comum é entender que meio ambiente é sinônimo de ambiente natural. O meio ambiente é o espaço que ocupamos seja urbano, seja mais integrado à natureza. Inclui nossos lares, ambientes escolares e de trabalho. A educação provoca reflexões sobre os impactos positivos e negativos de nossas escolhas, portanto chama o cidadão à responsabilidade sobre suas ações. Compreender seu espaço e os impactos gerados em seu meio é um passo fundamental para levar cada ser humano a refletir sobre sua relação com as demais pessoas, fauna, flora, recursos hídricos. A Educação Ambiental impulsiona reflexões e novas atitudes do ser humano com ambiente em que está inserido.

2) Como você vê a educação (socioambiental, ambiental, democrática, etc) no Brasil? 

Um entendimento que ainda limita a educação ambiental no Brasil é que educação é visto como algo próprio das escolas, isto é, parte da sociedade só reconhece a educação formal. A outra limitação é de natureza prática: a educação ambiental é experimentada em ações isoladas que nem sempre tem relação com o cotidiano dos envolvidos.

A educação ambiental não está restrita ao espaço escolar, pelo contrário, ela deve ser uma educação cidadã presente em nosso cotidiano. E deve tratar das questões do contexto de cada pessoa. Parafraseando Marina Silva, é fácil dizer o que o outro deve fazer no ambiente dele, mas devemos começar cuidando do nosso ambiente.

Nessa perspectiva de Educação Ambiental, temos muitas ações em práticas de muitas organizações no Brasil e, felizmente, cada vez mais. O próprio IPÊ é um ótimo exemplo de cuidar do nosso próprio ambiente, pois tem várias ações de intervenção em Nazaré Paulista, onde está localizado, e também está implementando o projeto Semeando Água para contribuir com o abastecimento dos reservatórios do sistema Cantareira em que o IPÊ consome a água diretamente de um de seus reservatórios (http://www.ipe.org.br/projetos/nazare-paulista/343-projeto-semeando-agua). 

3) Seguindo o ditado "pensar globalmente, agir localmente", como você vê a ESCAS - escola do IPÊ?

Na ESCAS, os alunos interagem com professores que estão nas discussões de fronteira nos circuitos internacionais sobre os assuntos de suas áreas e ao mesmo tempo mantem a vivência no chão. Uma imagem que usarei para explicar essa dinâmica é Antena-Raiz, isto é, estamos sempre aterrados com a concretização das ações nos territórios, contudo conectado ao que acontece no mundo. Por outro lado, nossas participações nas conferências mundiais são alimentadas pela nossa prática nos territórios, buscando a legitimidade de quem está no chão, fazendo na prática. Dessa forma é que trabalhamos na ESCAS.

 

4) Você é professor do Mestrado Profissional da ESCAS, correto? De que forma você contribui para que os alunos saiam do curso sem o dualismo teoria-prática? Ou seja, saim do curso integrados à missão de absorver a visão crítica para afinar a ação?

Ser professor na ESCAS é para mim um enorme prazer, pois tenho a oportunidade de compartilhar de forma crítica e criativa o que fazemos na prática e sempre tenho excelentes contribuições dos alunos. Os professores tem liberdade de trabalhar com seus alunos com abordagens metodológicas diferentes. Esse é outro ponto forte, pois assim, aproveita-se ao máximo o perfil de cada professor e os alunos podem vivenciar diferentes abordagens metodológicas.

No meu caso, trabalho com os alunos trazendo conceitos e teorias que sustentam a estratégia de intervenção dos projetos do Imaflora para em seguida abordar como isso se dá na prática considerando as limitações do mundo real, como ajustamos o que idealizamos para concretizar nos territórios que atuamos. Ao longo dessa reflexão, provoco os alunos a trazerem outros formas de fazer. Seria tolice entrar em uma sala de aula com profissionais com vivências e conhecimento tão diversos como são as turmas da ESCAS e achar que não há nada de novo para aprender. Esse espírito na ESCAS é o que gera uma comunidade de aprendizado surpreendente.

Tudo isso junto e misturado, oscilando do ideal para o pragmático de forma que ao final cada participante pode levar para o seu contexto várias perspectivas sobre um mesmo caso. É maravilhoso! Adoro realizar esses seminários com os alunos!

5) A última pergunta: a ESCAS utilizou de inovação (no que tange, principalmente, a forma de ensinar) para construir seus cursos (Mestrado, MBA e Cursos de Curta Duração). O que você acha que a escola tem de mais inovador?

Algo que considero o principal diferencial na ESCAS é que trabalhamos em casos reais direcionados a explorar soluções para serem colocadas em prática. Podemos partir de problemas, de oportunidades, ou qualquer outra possibilidade do mundo real e sempre orientados para encontrar caminhos a serem seguidos de forma pragmática e ao mesmo tempo bem embasado com os conhecimentos disponíveis. Os alunos saiem podendo colocar em prática em sua vida, às vezes antes mesmo de terminar o curso. Conto um caso para ilustrar o que vivenciamos na ESCAS: percebi um aluno que inicialmente estava muito interessado, participando ativamente, mas, no meio do curso, ficou irrequieto e aproveitando os intervalos para falar no telefone. Fui perguntar a ele o que aconteceu, pois fiquei preocupado, poderia ser um problema familiar. Ele me disse: “Encontrei um caminho a seguir para resolver um problemão em nosso trabalho que até agora não sabíamos como desenrolar. Já estou em contato com a equipe para já colocarmos em prática”. Isso ilustra o que quero dizer! Claro, que ele podia esperar acabar o curso, mas eu também fiquei tão feliz em contribuir tão rápido e significativamente, que o incentivei a já colocar em ação  Esse é o espírito!