Segurança Hídrica

Pesquisa revela que restauração florestal e sistemas produtivos sustentáveis são os melhores caminhos para conservação da água e garantia de abastecimento.

Plantar árvores e melhorar a qualidade do solo são as melhores estratégias para garantir resiliência na produção de água na bacia Atibainha, uma das cinco que formam o Sistema Cantareira, nos municípios de Nazaré Paulista e Piracaia, ambos no estado de São Paulo, essa é a conclusão do artigo recém-publicado na revista Earth/MDPI (Multidisciplinary Digital Publishing Institute) e que tem como primeira autora Letícia Duarte, egressa da ESCAS e pesquisadora do projeto Semeando Água/IPÊ. “O artigo é um desdobramento do meu trabalho de conclusão do Mestrado que foi expandido, a base eu fiz durante o Mestrado”, pontua.

Alexandre Uezu, professor da ESCAS e coordenador do Projeto Semeando Água, também está entre os autores do artigo Até que ponto as soluções baseadas na natureza podem aumentar a resiliência do abastecimento de água frente às mudanças climáticas em uma das mais importantes bacias hidrográficas brasileiras?” (How Far Can Nature-Based Solutions Increase Water Supply Resilience to Climate Change in One of the Most Important Brazilian Watersheds?).

Segundo Letícia Duarte, as análises feitas a partir do uso de duas metodologias (PUC/SWAT) demonstraram efeito de sinergia entre as duas estratégias já trabalhadas pelo projeto Semeando Água. “Melhorar as práticas de manejo em áreas prioritárias para recarga hídrica ajuda a reduzir oscilações na disponibilidade hídrica ao longo do tempo. Já a restauração das APPs melhora a qualidade da água e contribui também com o sequestro de carbono da atmosfera, estratégia para mitigar os efeitos das mudanças climáticas”.

Neste estudo, a pesquisadora explica que eles simularam projeções para a bacia do Atibainha, a partir de quatro diferentes cenários de uso da terra sob três condições climáticas: clima observado (2009 a 2019) e duas das projeções climáticas futuras (2020 a 2095) do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), a intermediária e a pessimista.

“O estudo é um alerta, já que mesmo na sub-bacia do Atibainha que apresenta melhores condições do que as outras, o resultado é preocupante. Considerando a projeção de RCP 4.5 (Representative Concentration Pathway) do IPCC de média de emissões de gases de efeito estufa, (caracterizada como intermediária, pela estabilização das emissões), restaurando as APPs e melhorando o manejo juntos, a recarga de aquíferos aumenta 8% em relação ao uso do solo atual, o escoamento superficial – água que não infiltra no solo – reduz em 40% e a produção de sedimentos que prejudica os reservatórios por conta do assoreamento terá redução de 6%. Para o cenário RCP 8.5 – o mais crítico (com aumento das emissões de gases de efeito estufa) – aplicar as duas soluções em conjunto reduz o escoamento superficial em 36% e a produção de sedimentos em 17%. Para as demais bacias, os efeitos das mudanças climáticas podem ser ainda mais drásticos porque elas estão mais degradadas, têm menos cobertura de mata nativa. No cenário atual, um dos destaques é que por conta da diminuição do escoamento superficial em 34%, há aumento na infiltração da água no solo, o que já contribui com o aumento da resiliência do sistema, uma vez que a água será liberada aos poucos. Nos meses mais secos, por exemplo, agosto e setembro, haverá mais 12% de água”.

A avaliação dos diferentes cenários na bacia do rio Atibainha contribui ainda para o entendimento dos desafios a serem enfrentados por gestores públicos, produtores rurais e população na busca por segurança hídrica em diferentes cenários de crise climática.

Com a iminência de uma nova crise hídrica em São Paulo, o estudo afirma a necessidade de ação coletiva para reduzir o impacto e evitar futuras crises. “O estudo salienta também que essas medidas devem ser combinadas com um esforço coletivo e intenso de redução das emissões de gases de efeito estufa, caso contrário, São Paulo poderá viver novamente eventos de crise”, destaca Letícia.

Inovação

Esse é o primeiro trabalho a usar o método oficial do estado de Minas Gerais, o PUC – Potencial de Uso Conservacionista para identificar as áreas prioritárias para recarga hídrica e na sequência incluir esses dados no SWAT – Soil and Water Assessment Tool para desenhar e simular as diferenças nessas áreas a partir de mudanças no uso do solo em três cenários climáticos.

“Utilizamos o PUC para encontrar áreas prioritárias para recarga hídrica na bacia do Atibainha. É um método que discrimina as áreas de uma bacia hidrográfica de acordo com as potencialidades e limitações de uso sustentável, definidas em termos de resistência à erosão, potencial para uso agrícola e contribuição para recarga hídrica. Já no SWAT, que é um programa de computador que simula o ciclo hidrológico em uma bacia, incluímos dados de temperatura, precipitação, tipo e usos do solo, declividade, manejo, parâmetros de crescimento das plantas, entre outras informações. A partir desses dados, o modelo indica o que acontece com a água da chuva na região, como por exemplo, evapora, passa a compor o volume dos rios, infiltra no solo e recarrega os aquíferos, etc.”, explica Letícia.

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